quarta-feira, 13 de maio de 2009

Robin Hood na cadeia

Dizem que a vida imita a arte e a arte imita a vida. Na ultima quarta-feira, Robério Antares, 25 anos, foi preso depois de roubar de Maria Augusta, 59 anos, a sua carteira. A ousadia não é o único fator que chama atenção para este caso, que segundo populares, “foi uma atitude digna de Oscar”. O roubo aconteceu na plataforma do metro na estação Eldorado, em contagem. Aproveitando a grande multidão, por volta das 18hr, Robério cortou a alça da bolsa da vítima e correu para fora da estação. Ao avistar o rapaz, policiais o seguiram até um ponto em que ele estava examinando a bolsa roubada. Dado o flagrante, o assaltante confessou o roubo.

Poucos segundos após o rapaz tê-la assaltado, Maria Augusta percebeu o assalto sentindo sua bolsa mais leve. Sem saber o que fazer a vítima foi acometida por um surto de histeria que a fez cair e bater a cabeça no chão. “Foi tudo muito estranho, do nada, ela começou a chorar, gritar e desabou ao chão”, lembrou um dos populares. Em questão de dois minutos, um grupo de apoio da polícia militar chegou até a vítima, já acordada, e prestou os primeiros socorros. “Fomos informados de que uma senhora estava passando mal e fomos socorrê-la. Ao chegarmos lá, ela nos contou que havia sido roubada. Mas ela está bem, foi só um susto mesmo”, informou o Sargento Rodriguez.

Ao ser informado de que a vítima ainda estava no local, Cabo Vieira, responsável pela prisão do assaltante, o levou até a vítima para um reconhecimento. Ao chegar, e ser reconhecido, Maria perguntou à Robério o porquê do roubo. “Eu não sou ladrão! Acontece que minha vizinha está passando dificuldades. Eu pensei que a senhora fosse uma dessas madames e que nem ia dar falta do dinheiro. Mas depois que vi que tinha um carnê na bolsa, vi que não era. Mas eu ia devolver. Não iria pegar de trabalhador”.

Levada ao hospital JK, em contagem, a vítima foi avaliada e liberada. Em um desabafo, ela afirmou não ter entendido a cena. “Não faço mal para ninguém! Vou à igreja sempre, ajudo meus netos e ainda sou assaltada”. E com os olhos lacrimejando, Maria foi amparada por sua filha até o carro.

Na delegacia, Libério confessou que era o terceiro assalto esta semana, “mas que ele não era ladrão, pois, estava pegando de quem não precisa para dar a quem precisa”. Com esta desculpa, o assaltante concluiu os seus dias como “Robin Hood”. O delegado, José Pessanha, declarou que “‘Robin Hood’ terá um bom tempo para avaliar a sua decisão de fazer justiça com as próprias mãos.

Rapaz faz "empréstimo" com Deus e é preso

Seguindo a máxima cristã que prega o dividir entre os mais necessitados, Adaílton Oliveira da Silva de 27 anos aproveitou o final de um culto evangélico para fazer um “empréstimo” ao caixa da igreja. Adaílton, que mora no bairro Jardim Riacho em Contagem, afirmou que não é assaltante e que iria pegar emprestado o dinheiro para quitar algumas dívidas: “achei que não iam dar falta”, reiterou. De acordo com a prª Vilma Maria de Almeida, responsável pela congregação localizada no Bairro Amazonas, em contagem, é a primeira vez em que ela presencia tal “aberração”, termo utilizado por ela ao explicar o ocorrido.

No momento do assalto, a maior parte dos fiéis estava do lado de fora da igreja onde se despediam. Mario de Oliveira, que é um dos músicos e que estava se despedindo, afirmou que “tudo aconteceu rápido demais! Aqui na igreja sempre tem pessoas novas, é impossível, para nós, saber o real interesse delas”. Adaíton aproveitou que a maior parte dos fiéis estavam distraídos e entrou sorrateiramente até o escritório da congregação. No momento em que chegou ao escritório, Adaílton se deparou com Rosangela Alvim, tesoureira da congregação, que perguntou o que ele fazia ali: “achei estranho aquele cara entrando pela porta, mas pensei que estivesse apenas perdido”. Para Rosangela, o rapaz não parecia nervoso e nem nada que pudesse chamar atenção e por isso, não se preocupou em ir atrás para se certificar de que não corriam perigo. A tesoureira ao terminar de contar as ofertas da noite guardou tudo num pequeno cofre e retirou-se da sala após ter trancado a porta.

Adaílton havia se escondido numa sala e logo após a tesoureira se retirar, ele abriu a porta forçosamente e pegou todo o dinheiro da caixinha. Como se não bastasse à ousadia, o assaltante deixou dentro da caixinha um bilhete explicando o motivo do “empréstimo”, que dizia: “Por motivo de força maior, preciso do dinheiro. Não sou ladrão. Por isso estou pegando emprestado do meu pai. Devolvo quando puder.”. Ao sair da congregação, Adaílton esbarrou com Paulo Alcântara Rodriguez e o volume de dinheiro que estava escondido em sua calça veio ao chão. Por azar, Paulo era cabo da polícia militar, que ao avistar a cena, deduziu que se tratava de um furto. Na mesma hora, Paulo deu voz de prisão e solicitou a presença de uma viatura ao local.

Já na delegacia, descobriram que este não foi o primeiro furto de Adaílton, que já havia furtado mais duas igrejas em menos de duas semanas. Ao confessar ter tido participação noutros furtos, o criminoso foi taxativo ao dizer que “não se trata de um roubo, mas sim de um empréstimo”! A prª Vilma Maria de Almeida, responsável pela congregação, afirmou que não irá apresentar uma queixa contra Adaílton. Segundo ela, “todos merecem uma segunda chance, ainda que tenha tentado assaltar a casa de Deus.”

Tinha que fazer uma plástica

Dona de casa é acusada por doméstica de tê-la demitido por ser feia. Se for comprovado, indenização pode chegar a R$ três mil.

Segundo a advoga Marlucia Rodrigues, que representa a doméstica, chamar uma pessoa de “feia”, no mundo atual, é preconceito. “Que culpa você tem de não ser o Brad Pitt?”, questionou. A advogada prometeu batalhar por uma indenização ainda maior. “Há os danos materiais, porque a Aurelina ficou desempregada, mas e os danos morais? Como que a cabeça dela vai ficar depois disso? Que mulher gosta de ser chamada de feia?”- provocou.

De acordo com o jurista, Nelson Machado da Luz, se for comprovado o dolo, a Villacy pode pegar até dois anos de cadeia. Pelo telefone, a patroa nega a acusação. “Nunca falei isso; tenho o maior respeito pela Aurelina... agora, se você quiser acreditar numa empregada, isso é problema seu, meu filho”, argumentou.

Apesar da negação, Aurelina afirma ter sido vítima de uma perseguição por parte da família de Villacy. “Todo mundo me humilhava naquela casa; minha patroa me falava que eu tinha que fazer uma plástica. E eu lá tenho dinheiro para fazer isso?”, contra-argumentou.

Indiferente a esta discussão, o jurista concorda com a advogada Marlúcia quando afirma que “boa aparência não é sinônimo de decência e de probidade moral” e caso esta “acusação” seja comprovada, caracterizará um crime que Villacy responderá em juízo.

Crime revela a mentalidade de uma época

Passados 60 anos de um crime que mostrou à sociedade mineira a existência de uma rede de homossexuais na capital, pouca coisa mudou e a grande sensação de que ainda somos uma sociedade preconceituosa continua a incomodar alguns belo-horizontinos.

“Onde iremos chegar?”, esta foi a pergunta que toda sociedade belo-horizontina se fez após o vatídico cinco de dezembro de 1946, quando Luiz Gonçalves Delgado fora brutalmente assassinado no Parque Municipal. A vítima recebeu 28 facadas e foi encontrado por estudantes que encurtavam caminho até sua escola passando pelo parque. Após seis décadas, esta pergunta ainda não encontrou resposta. A sociedade continua sem saber qual será o próximo limite a ser testado e quebrado por assassinos que não ligam para a moral que cerca a existência humana. Mas de uma coisa todos podem esperar: novas formas de brutalidade e justificativas irão fazer com que todos continuem boquiabertos e com uma sensação de insegurança cada vez maior. Se antes a população de Belo Horizonte ficou chocada com este crime bárbaro, hoje, crimes como este se vê aos montes. Nem por isso avistamos uma população em polvorosa. Os crimes que tiram o sono do mundo são aqueles que fogem ao comum. Crimes bárbaros não são mais suficientes para causar comoção pública. Eles têm de ser únicos. Mesmo não sabendo o que é pior, se é não ter a mínima idéia do limite da ignorância humana ou se é o não dar a mínima importância para a existência desta brutalidade, todos clamam por uma sociedade mais humanitária.

Sem fazer muita força, é possível lembrar-se de amigos, conhecidos ou parentes que tiveram o seu direito a vida cerceada por motivos banais e que comumente se apresenta de forma brutal. Hoje em dia já não é tão incomum assim. Quando a sociedade começou a não dar importância às pessoas que são mortas? Seria necessário traçar um parâmetro sobre a Belo Horizonte de 60 anos atrás com a Belo Horizonte de nossa contemporaneidade. Lembrar de casos como o ocorrido no Parque Municipal é propiciar à população uma reflexão crítica sobre o caminho que iremos, quiçá queremos, percorrer. É uma das poucas tentativas de fazer com que a banalização da vida humana não caia no descaso total.

A vítima deste trágico assassinato era um homem distinto que pertencia à classe média da época, não havia nada que o desmerecesse. Com a sua ocupação profissional e sua posição privilegiada, Luiz não teria razão alguma para estar correndo perigo. Pelo menos, não teria. Luiz Gonçalves Delgado teve o seu assassinato atrelado a um relacionamento homoerótico. Para a sociedade da época, o tabu da sexualidade era vivenciado por todas as famílias tradicionais. Se em pleno século XXI, a homossexualidade continua sendo combustível para intolerâncias e agressões, o que dirá, então, naqueles dias em que expor sua sexualidade era uma afronta aos bons costumes.

Este crime perturbou consideravelmente o pacato cenário que a Belo Horizonte tinha em meados dos anos 40. Não apenas por se tratar de uma vida que foi perdida, mas pela combinação de 4 fatores, segundo o pesquisador Luiz Morando. A barbaridade com a qual o a vítima foi assassinada é o primeiro fator a ser levado em consideração, pois, o assassino desferiu 28 golpes em sua vítima. Em seguida, pelo local onde o corpo foi encontrado, um recanto ermo e bucólico do Parque Municipal, na região central da cidade. Em terceiro, pela suspeita, tornada forte ao longo dos anos, de envolvimento homoerótico entre vítima e criminoso. Quarto, derivado do terceiro aspecto, pelo envolvimento de diversos indivíduos que interligavam, entre si, as camadas mais polarizadas da sociedade: a elite e a boemia malandra.

Em virtude desta situação, em meio ao grande alarde e notoriedade nacional que este caso suscitou à BH, descobriu-se um segmento que até então estava escondido aos olhos da sociedade mineira. Algo que era impensado e que até hoje é motivo de espanto para muitos. Uma rede social de homossexuais presente na cidade. Há 60 anos, esta rede era mantida por personalidades exóticas com seus pseudônimos sendo levado ao mais alto nível de criatividade e que contava com muitos indivíduos. “É significativo que um crime, promovido de maneira tão violenta, revele ainda, ou pelo menos dê indícios, a mentalidade de uma época sobre questão tão crucial que é o lugar social reservado a homens homossexuais”, argumento o pesquisador.

Após esta descoberta, a brutalidade deixou de ser a cerne deste caso para dar lugar ao modo como a população tratou toda esta trama. Como um circo que chega a cidade, populares iam às sessões para saciar o seu desejo de descontração. A busca pela justiça deu lugar ao parvo entretenimento. Que contou com a ajuda do acaso ao juntar numa mesma trama a participação de indivíduos e situações dos mais variados estilos. Teve poeta acusado de assassinato, que teria assumido a autoria em seus poemas e que foi acusado pela sua esposa e confirmado por seus amigos. Crianças sendo privadas de sua ingenuidade ao presenciar a cena de um conceituado contabilista atirado ao chão. Roupas ensangüentadas que somem do necrotério, misteriosamente. Filho da empregada doméstica sendo acusado. E para terminar o grande, porém qualificado enredo, contou com a presença de dois grandes advogados: Dr. Pedro Aleixo e Dr. João Pimenta da Veiga. Tudo isso acompanhado por uma multidão de expectadores extasiados por toda aquela agitação.

Este crime deu lugar a uma nova realidade. Abriu o olho daquela sociedade para os fatos que não queria ser visto, mas que se encontrava efervescente na capital mineiro. O crime não foi o único a ser praticado contra os homossexuais naquele momento. Luiz Morando, durante sua pesquisa, descobriu que em novembro de 1954, ano em que o suposto assassino foi levado a julgamento, um cozinheiro homossexual foi assassinado a pedradas em uma madrugada, na praça Vaz de Melo, na Lagoinha. Nas décadas seguintes, outros homossexuais são assassinados, casos que podem ser acompanhados pela imprensa local. De que outra maneira a sociedade mineira poderia ter consciência de que a pacata, e até então ingênua, Belo Horizonte tinha virado uma cidade pluralista e como todas as grandes cidades, até mesmo os crimes teriam maior repercussão se este caso não tivesse acontecido? Os belo-horizontinos daquela época tiveram um previa do mundo que seus filhos iriam viver. Um mundo marcado pela banalização da vida humana. Marcado também pelo ódio ao desigual. Como bem lembrou Luiz Morando, passados 60 anos, as condições da cidade são completamente diferentes. As circunstâncias e fatores que modificaram sua aparência não foram suficientes, no entanto, para alterar certa mentalidade que vê na rede social de homossexuais um alvo fácil e frágil de chantagens e extorsões. Embora o quadro seja outro, sobretudo pela ampliação das políticas públicas para manutenção de ações que preservem os direitos humanos, civis e sociais, ainda homossexuais são vítimas de malfeitores. O prof. Luiz Mott divulga anualmente seu levantamento, feito por meio da imprensa, de assassinatos de homossexuais. Por meio desse trabalho, podemos verificar que a cada dois dias é assassinado um homossexual (seja gay, lésbica ou travesti). A mobilização precisa ser contínua para que caia. Para isso, dependemos de mudanças, que se faz no dia a dia, na mentalidade social, tornando a população mais tolerante e esclarecida.

Por dentro do Assunto

O crime do parque municipal ficou marcado por diversos fatores:

* A sociedade mineira ainda não havia presenciado tamanha barbárie.

* O crime foi ligado, através das investigações policiais, à vida sexual da vítima. Dando ao caso uma suposta motivação passional entre um relacionamento homossexual da vítima com o seu algoz.

* Este assassinato trouxe a tona a realidade homoerótica que era bastante viva em meio à sociedade.

* A brutalidade com a qual Luiz Gonçalves Delgado foi assassinado. Ele foi encontrado com 28 perfurações de faca.

* Pelas idas e vindas de suspeitos, acusações intrigantes e pelos advogados que estavam no caso.

* Quem encontrou o corpo foi algumas estudantes que estavam cortando caminho para ir ao colégio.

Observando todos estes fatores, fica claro o motivo pelo qual este crime suscitou comoção pública entre 1946-54. Atrelado a este crime estavam os vários curiosos que se aglomeravam para acompanhar o julgamento do principal suspeito, Décio Frota Escobar. Os populares, que chegou a somar uma multidão com mais de três mil expectadores, acompanhavam ininterruptamente o julgamento. Segundo algumas matérias da época, de acordo com o que era dito no tribunal, a população vibrava ou vaiava quem discursava.

Durante quase uma década, vários delegados e investigadores tentaram elucidar o caso que até hoje encontra sem solução. Todavia, este crime trouxe Belo Horizonte para o destaque das páginas de jornal de Rio de Janeiro e São Paulo. Até então, crimes deste porte só eram avistados nestas cidades, que ditavam o ritmo a ser seguido pelas demais cidades brasileiras, até mesmo em se tratando de crimes.

Belo Horizonte de 1940

O Crime do Parque ocorreu em uma cidade que, embora capital de Estado, ainda guardava traços muito peculiares de provincianismo e tradição. A Belo Horizonte de 1946 possuía em torno de 200.000 habitantes, já tendo estourado a previsão populacional para a qual havia sido planejada em fins do século XIX. A cidade recebia um fluxo de migrantes considerável, embora não tão alto quanto São Paulo. Seu clima atraía pessoas doentes com tuberculose, encaminhadas para tratamento. Na década de 1940 a cidade era despertada para seu segundo ciclo de desenvolvimentismo (o primeiro havia sido na segunda metade da década de 1920), representado pela abertura da avenida Amazonas até aonde seria implantada a Cidade Industrial, segundo o planejamento de Juscelino Kubistcheck. A vida social e cultural era considerada pacata, embora alguns crimes já tivessem tumultuado esse cotidiano calmo. A polícia, por sua vez, lidava com diversas categorias dos considerados malandros: rufiões, ventanistas, pedintes, cáftens, pequenos assaltantes.