quarta-feira, 31 de março de 2010

Quando alguém precisa de ajuda?

Por Nando Max

Para alguns, a vida é bem mais do que fechar os olhos e se deixar levar. Necessitar de uma ajuda na hora do desespero não parece ser motivo de preocupação, pelo menos para as pessoas que descobriram no gênero da autoajuda o seu porto seguro


Isaias Lucas Barros, de 26 anos, é motorista de carreta há cinco anos. Nascido em uma família de quatro irmãos, Isaias afirma que só conseguiu compreender o seu lugar no mundo após ter tido contato com o gênero da autoajuda. Como conseqüência de uma adolescência conturbada, ele conta que não conseguiu ter ajuda dos pais, dos amigos e nem do seu computador. Os jovens de hoje não recorrem aos pais para resolverem seus problemas. Alguns podem até dizer que eles recorrem aos amigos, se enganam. “Quando precisa de ajuda, o jovem vai até seu computador e procura por ajuda e quando não a encontra, ele só pode encontrá-la nos livros”, disse. Para o futuro, Isaias tem como meta abrir uma transportadora. Apesar de todas as dificuldades, o seu primeiro passo foi buscar na autoajuda uma base para lidar com todas as adversidades. “Já estou me preparando com a leitura do livro O Monge e o Executivo”, confidencia.

Os homens nunca foram tão informados. As promessas de acabar com as distâncias, melhorar as percepções de mundo e, principalmente, ter acesso a um vasto conhecimento, fez com que esperássemos um futuro melhor para a humanidade. Essa era a idéia. Mas, algo não saiu como se esperava. “A sociedade se diz tão globalizada, tão interligada via internet, mas tudo isso esconde a maior solidão que a humanidade já enfrentou”, explica o sociólogo Leonardo Penha. Como resultado da solidão, uma nova modalidade da literatura surge no cenário mundial prometendo aliviar as tensões da contemporaneidade: os livros de autoajuda.



Saber escolher

Para o filósofo Maxwell Silva, que também se diz consumidor deste gênero, a autoajuda assumiu um patamar de grande importância na vida dos seus consumidores. “Vivemos em um período em que cada um busca a sua própria verdade”. Em decorrência disso, o individualismo se acentua. O papel da autoajuda seria o de atenuar essa peculiaridade, pois o gênero está preocupado com o indivíduo e com tudo a sua volta. Apesar das críticas sobre o gênero, Maxwell lembra que se o objetivo for alcançado, não há nenhuma contraindicação ao utilizar livros de autoajuda. “O objetivo desta leitura é fazer com que o leitor saiba que ele não está sozinho; que ele tem capacidade para fazer qualquer coisa que queira fazer”, informa. Como em todos os gêneros literários, os maus autores devem ser conhecidos. “Antes de beberem da água do conhecimento da autoajuda, conheçam, antes, a sua fonte”, completa Leonardo Penha.


Para Adriana Neumann, advogada, os livros de autoajuda são como espadas de dois gumes. “Vejo que esse tipo de literatura transmite pensamentos positivos, embora superficiais”. O problema é justamente esse. Embora a autoajuda tenha alcançado um patamar de destaque em todo o mundo, pouco se sabe sobre suas implicações na manutenção da sociedade no futuro. Para a Advogada, o problema é que os jovens de hoje não estão sendo educados para uma boa leitura, um fato que culminou no crescente aumento pela procura dos livros do gênero. “Nossas livrarias são poucas e frequentadas por um número reduzido de pessoas. A autoajuda, por sua vez, é leitura de digestão fácil e acessível, o que a torna mais atraente a quem tem preguiça de ler”, explica. Para ela, ao contrário do que pensa o Maxwel, o potencial negativo desta leitura é bem mais evidente do que o potencial positivo. “Não vejo muito o que esperar, senão pessoas cada vez mais voltadas unicamente para seus problemas, sem se preocuparem com os da sociedade”, acredita.



O Segredo para vender

O livro O Segredo, escrito por Rhonda Byrne, vendeu em dois meses mais de seis milhões de exemplares, somente nos Estados Unidos. Ele é, sem dúvida, um dos maiores fenômenos de vendas que o mercado americano já viu. O Segredo é o mais famoso livro deste gênero e foi feito a partir de vários especialistas em diversas áreas. O seu nome é o resultado de uma ótima jogada de marketing. Sua mensagem é bem simples e direta: “peça, acredite, receba - você pode ter tudo o que deseja”. No entanto, a sua aparente simplicidade esconde uma construção fantástica atribuídas aos life coaching, que são especialistas em orientar pessoas em todas as áreas da vida. Estes técnicos reuniram neste livro os conhecimentos específicos de marketing, da motivação e da religião.


O Monge e o Executivo

Este livro é outro exemplo do poder de vendas que o gênero possui. O livro já vendeu mais de dois milhões de cópias no Brasil. Ele conta a história de um executivo Jhon Daily odiado pelos seus subalternos que resolveu fugir para um mosteiro. Ele pretendia encontrar uma paz interior e acabou descobrindo mais do que isso, ele descobriu que para se tornar um bom líder, quatro princípios deveriam ser avistados: respeito, perdão, confiança e o desapego. Uma obra que segue a linha do “você pode ter tudo o que deseja”, mas com uma especificidade própria que é o direcionamento aos líderes.